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menteconspiradora

A chuva

A chuva caía lá fora, uma chuva fresca, mas que há medida que caía o corpo habituava-se a ela, as gotas escorriam pelas pontas do cabelo já encharcado, as pinturas dos olhos seguiam as gotas no seu caminho descendente, parecia que chorava, mas os seus olhos brilhavam, brilhavam como os olhos de um bebé que vê a vida pela primeira vez, ou os olhos de um idoso que pela primeira vez vê o oceano e o sol a banhar-se nele num entardecer. Ela lá estava, parada, com a chuva a fazer dela um alvo perfeito, as gotas pareciam desviar-se apenas para terem o prazer de lhe tocar. E ela, parada, no meio da rua, de mão estendida, há espera da minha mão, há espera que eu me junta-se a ela. E eu, correndo, rua a cima, e só tinha olhos para ela, a água desviava-se de mim, não queria nada comigo, mas eu só tinha olhos para ela, ali, parada, com a chuva a correr nela, mais do que eu corria para ela. E eu, corria. E ela, sorriu. E eu, peguei finalmente na mão dela, ela chegou-se a mim, e a água começou a cair sobre ambos. E nós, juntámos os nossos lábios pela primeira vez, trocamos saliva, as nossas línguas passaram a ser um casal de dançarinos a dançar uma valsa no mais belo dos salões. E o brilho nos olhos dela, duplicou, os meus deviam de parecer dois faróis. E assim ficámos, de lábios colados, no meio da rua, com a chuva como um cobertor, com a lua que já surgia tímida por entre as nuvens cinzentas como tecto, e com duas línguas que não queriam parar de dançar.

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