A estupidez e a mentira tiram-me do sério
Há duas coisas que me tiram do sério, a estupidez e a mentira, não falo de mentiras brancas, daquelas que não magoam e apenas escondem feias realidades, falo daquelas que prejudicam que criam erros e duvidas, que muitas vezes levam a desentendimentos e guerras sem sentido, essas mentiras tiram-me do sério, deixam-me carregado de raiva, raiva não só por saber que é mentira, mas porque a pessoa que o diz sabe que é mentira mas vai dizendo-a com ar de gozo e repetindo-a e defendendo-a como se fosse uma verdade absoluta.
A outra coisa que me tira do sério é a estupidez, não a estupidez de uma pessoa pouco inteligente, a estupidez de quem é inteligente, a estupidez a quem foram dadas todas as armas para ser melhor de quem pessoas se sacrificam e sofrem pelos sonhos dele, fazem esforços ás vezes inumanos fazendo das tripas coração lutando e no fim, a estupidez vem ao de cima e olhamos e vemos que quem é melhor desiste, rende-se sem lutar, não se esforça nem um minuto, baixa simplesmente os braços porque as coisas não lhe são dadas, ou oferecidas como o estúpido queria que fossem. Essa estupidez é de tal forma irritante que é como o meu Kriptonite, deixa-me fora de mim, num estado que não é o normal, nem consigo raciocinar como deve de ser e depois fico ainda pior ao ver que essa estupidez causa vitimas nos inocentes, não criadas por mim e pela minha raiva hulkiana, mas sim causadas pelo estúpido que simplesmente desiste sem nunca lutar.
Sou de uma família com muitos irmãos, que aos 9 anos o meu pai tinha saído de casa e abandonado todos, naquele tempo não havia pensões de alimentos, foi a minha mãe com a sua pequena reforma que fez das tripas coração para nos por comida na mesa e roupa no corpo, por maiores que fossem as contrariedades, lembro-me de cheias em que perdemos quase tudo, do roubo em que roubaram a reforma que era o dinheiro todo do mês, mesmo assim crescemos e quisemos ser mais do que o que éramos, mas sem posses certos sonhos eram impossíveis, mas tínhamos amigos, que tinham as posses que tinham as armas certas para o que queriam ser na vida, desde um que era o melhor do bairro, o miúdo tinha muito futebol naqueles pés, tinha o futuro todo à frente dele, era o avô que se sacrificava para o levar a todo o lado, fartou-se, desistiu, desistiu porque não quis lutar, hoje vejo-o e as conversas são sempre as mesmas, e se... e se..., a minha resposta é sempre a mesma, e se não tivesses sido estúpido?
Como ele conheço muitos outros, desde o miúdo que era ás no desenho, o jogador de andebol, o guitarrista, o baterista, o ciclista, eu sei que quando somos miúdos pensamos no agora, mas tenho 40 anos, olho para trás e estar com eles a conversa é sempre a mesma, e se... e se... e a minha resposta é sempre a mesma, "E se não tivesses sido estúpido?"
As vitimas, tanto da mentira como da estupidez são sempre as mesmas, aquelas que querem o melhor para nós, aquelas que lutam pelo melhor para nós, aquelas que estão prontas a lutar por nós até à última gota de sangue, essas pessoas são as primeiras baixas, as primeiras vitimas, pois uma parte delas morre naquele momento, hoje, olho para trás para essas vitimas e vejo nelas a ausência do fogo no olhar que tinham antes, um fogo que não mais se acende e que se transforma em neblina que vai alastrando e alastrando até que alastra a alma.
Gostava apenas que quem desiste de lutar simplesmente porque é estúpido, pensasse primeiro nas vitimas, naquelas que sofrem, pensem primeiro e deixem de ser estupidos!